Movimentos Sociais
Em sua 18ª edição, no último dia 7 de setembro, as mobilizações do
Grito dos Excluídos levaram milhares de pessoas às ruas e praças de todo país,
tendo como lema “Queremos um
Estado a serviço da nação, que garanta os direitos de toda a população”.
Com diversos tipos de manifestações e expressões culturais e religiosas, a
iniciativa envolveu praticamente todas as capitais, além de dezenas de outras
localidades e comunidades, com destaque para o evento realizado no Santuário de
Aparecida, junto com a 25ª Romaria dos Trabalhadores.
De norte a sul do país, comunidades, pastorais e movimentos sociais,
sindicatos, igrejas e organizações indígenas, quilombolas, portadores de
deficiência, mulheres, entre outros, saíram às ruas para protestar e mostrar
sua indignação diante deste modelo de economia que cresce, mas não distribui a
riqueza, destrói a natureza e o meio ambiente.
Há 18 anos o Grito dos/as Excluídos/as se firma e se constitui como
manifestação popular carregada de simbolismo, com muita animação e profecia
apresentando uma nova forma para se comemorar o Dia da Pátria. E mais uma vez,
apesar das dificuldades, constatamos que o 18º Grito foi um acontecimento
nacional que aconteceu de forma descentralizada e neste ano chegou a novos
municípios e comunidades que o realizaram pela primeira vez.
Grito dos Excluídos e Semanas Sociais Brasileiras sempre representaram
duas iniciativas casadas. No pano de fundo das discussões sobre o Estado que
temos e o Estado que queremos, o Grito contribuiu com sua programação
costumeira. Privilegiou-se não tanto os eventos, e sim o processo: há um antes, de
preparação, seminários e reflexão; depois, um durante, que ocorre na Semana da Pátria,
com destaque para o Dia da Independência; e por fim, um depois, na
avaliação, impacto e soma com outras entidades, movimentos e organizações em
geral.
Na convergência entre as manifestações do Grito e os debates da 5ª SSB,
importam menos os números do que as proposições que vão amadurecendo. Nesta
perspectiva, a partir da avaliação das atividades da 18ª edição do Grito,
poderíamos indicar quatro inflexões significativas, as quais vão
simultaneamente criticando a forma de Estado que temos e
delineando os contornos do Estado
que queremos.
A primeira
refere-se à superação do Estado autoritário, onde o domínio ou o comando cedem
o lugar a uma discussão democrática, plural e dialógica. Parte-se do
pressuposto de que a linguagem humana, a comunicação, por si só, já possui
elementos de consenso para fundamentar um Estado de Direito. Este não pode
furtar-se à crítica permanente e construtiva, a qual tende a engendrar canais e
dispositivos democráticos novos e criativos.
Depois,
em lugar de um projeto de
poder, onde o objetivo é conquistar o posto e a ele
agarrar-se, deve prevalecer um projeto
de nação. Neste, é preciso levar em conta as necessidades
básicas de toda a população, privilegiando as camadas de baixa renda. Não com
políticas compensatórias, mas com políticas públicas de longo prazo. Disso
resulta um novo mapa do processo político: emerge e se consolida uma rede de
novas formas de associação que irão reforçar o protagonismo e a incidência da
sociedade civil sobre o Estado.
Em terceiro lugar,
a inflexão representa o desafio de passar de um Estado patrão, espécie de
capataz dos centros decisórios da economia globalizada, para um Estado
regulador dos interesses sociais, econômicos e políticos. Precisamos de um
Estado de olhos voltados para as condições reais dos trabalhadores e suas
famílias. Hoje a primazia do crescimento a qualquer custo entra em rota de
colizão com um modelo justo, solidário e sustentável de civilização. Mais do
que o crescimento, a ênfase deve recair sobre a distribuição da riqueza e dos
bens.
Por fim,
trata-se de avançar de uma democracia representativa, para uma democracia
crescentemente participativa. Em outras palavras, mais direta e menos formal.
Os chamados “representantes do eleitorado” na verdade o são apenas de seus
interesses, quando muito das corporações a que pertencem. O corporativismo
entre os três poderes gera uma série de vícios que distorcem irremediavelmente
o caráter participativo da democracia.
Contribuíram para esta análise:
Pe. Thierry Linard SJ
(Ibrades), Pe. Ari Antônio dos Reis, Daniel Seidel, Pe. Geraldo Martins,
Gilberto Sousa, José de Jesus Filho, Paulo Maldos e Pedro Gontijo.
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