quinta-feira, 12 de julho de 2012

Grito dos Desterrados


Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
 “O grito está no início da vida do ser humano sobre a terra: grito de caça, de guerra, de amor, de terror, de alegria, de dor, de morte. Mas também os animais gritam. E para a comunidade antiga, grita também o vento e a terra, a nuvem e o mar, a árvore, a pedra, o rio. Ao grito estão ligados os aspectos decisivos da existência. O ritmo, a música e o grito precedem a palavra como veículo de comunicação” (E. Severino, citado por Umberto Galimberti in L’ospite Inquietante).
A essa citação, poderíamos acrescentar o grito da terra Agredida por um modelo econômico predador, o planeta exibe feridas e hematomas cada vez mais preocupantes. A poluição do ar e das águas, a derrubada das florestas e a desertificação do solo, a emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global, a destruição dos ecossistemas pela agressão humana – são algumas dessas chagas. O progresso e a tecnologia, marchando ao ritmo da ambição do lucro e da acumulação de capital, devastam a face da terra. Suas chagas crescem na proporção direta da concentração da renda e da riqueza, por um lado, e da exclusão social, por outro.
A ânsia irracional de produzir-vender-consumir cria um círculo vicioso que lança milhões e milhões de pessoas às estradas. São os desterrados do globo: sem raiz nem pátria, sem rumo nem endereço. Se o planeta terra grita pela vida em todas as suas formas – a biodiversidade – os desterrados gritam pelos direitos básicos. Gritam por um chão firme, onde possam mergulhar as raízes e construir sua cidadania. Esta, longe de ser uma palavra vazia e retórica, requer condições reais de vida: terra e trabalho, saúde e escola, segurança e moradia, lazer e transporte digno.
Daí o lema do Grito dos Excluídos de 2011: Pela vida grita a Terra... Por direitos, todos nós! Tanto o planeta terra quanto aqueles que sobre ele se sentem estrangeiros levantam-se do chão para denunciar e anunciar. E a luta pela vida adquire as mais diferentes formas de linguagem. Mais do que com as palavras, gritamos com o ritmo e com a música, com a dança e com o gesto, com as aves e com o vento, com o mar e com as tormentas, com o canto e com o grito.
Não se trata de um grito solitário. A ele se unem outras ações que exigem mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais. A ele se juntam outras forças vivas e ativas, tais como movimentos, organizações de base, associações, campanhas, romarias, marchas, celebrações, atos públicos, plebiscitos... Os gritos, por mais diferentes entre si, se mesclam e se entrelaçam. Surgem no horizonte a consciência, a organização e a mobilização. E assim, nas asas do vento, os sem vez e sem voz, adquirem formas novas de reivindicação, de luta e de vitória.
O gesto, o ritmo, a música, o canto, a dança, o teatro, o símbolo... São formas de gritar. Linguagem plural, polissêmica e polifônica: tem vários significados, é patrimônio de todas as culturas e todos os povos a entendem. A terra e seus inúmeros desterrados, passo a passo, palmo a palmo, gota a gora, volta à vida e à biodiversidade. À vida em primeiro lugar!

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